19 de junho de 2011

Ou então: tudo ao contrário

“Terceiro: em nenhuma circunstância eaqueças o célebre dictum: na literatura não há nada escrito.

(…)

Sexto: aproveita todas as desvantagens, como a insónia, a prisão ou a pobreza; a primeira fez Baudelaire; a segunda, Pellico; e a terceira, todos os meus amigos escritores; evita, pois, dormir com Homero, ter a vida tranquila de um Byron ou ganhar tanto como Bloy.

Sétimo: não persigas o êxito. O êxito acabou com Cervantes, tão bom novelista até ao Quixote. Ainda que o êxito seja sempre inevitável, procura um bom fracasso de vez em quando para que os teus amigos se entristeçam.

(…)

Décimo: tenta dizer as coisas de modo que o leitor sinta sempre que no fundo é tanto ou mais inteligente do que tu. De vez em quando tenta que efectivamente o seja; mas para conseguir isso terás de ser mais inteligente do que ele.”

Augusto Monterroso, “Decálogo do escritor”, in O resto é silêncio, Lisboa, Oficina do Livro, 2007, p. 115-116

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