4 de julho de 2011

Como diria o Nabokov, “opiniões fortes”

“Se o discurso cultural brasileiro comporta uma espécie de esquizofrenia latente devida à preocupação, afinal absurda, de procurar uma identidade imaginária numa indianidade a posteriori, forma de recalcar o acto fundador português, o discurso português sobre o Brasil é pura e simplesmente retórico e onírico. Esse discurso sem qualquer conteúdo real está, há muito tempo, ritualizado em formas convencionais. Para nós, portugueses, o Brasil é o país irmão, designação que nos envaidece, naturalmente, mas que, no fundo,  tem por objectivo esconder a relação de origem que os brasileiros não estão interessados em evocar. O discurso português sobre o Brasil, tal como o transmite uma longa tradição retórica e historiográfica, incessantemente reescrita, é produto de uma pura alucinação da nossa parte, alucinação que os brasileiros — há pelos menos um século — não ouvem nem compreendem.”

Eduardo Lourenço, “Uma língua, dois discursos”, in A nau de Ícaro e Imagem e miragem da lusofonia, São Paulo, Companhia das Letras, 2001, p. 149.

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